Mó pastel

A exploração do pastel (Isactis Tinctoria L.) constituiu, junto com a cultura do trigo, uma das principais fontes de riqueza do arquipélago dos Açores durante, aproximadamente, os dois primeiros séculos de sua história. Esta é uma planta originária do sudoeste asiático, que foi amplamente cultivada em zonas de clima temperado, para funcionalidades medicinais e, principalmente, tintureiras. A partir do século XV, o seu cultivo massificou-se, com o intuito de comercializar o corante de tonalidades azuis, produzido pelos seus engenhos de pisão, e que correspondeu a um dos produtos de luxo que circularam pelas grandes rotas europeias, até meados do século XVII, quando caiu em desuso, pela introdução do cultivo e produção do anil.

Sabemos, através dos relatos dos cronistas de época, que o cultivo do pastel se verificou, em praticamente todas as ilhas do arquipélago. Todavia, o número de pedras de engenho registadas é bastante reduzido, porquanto a maior parte delas desapareceu, na sequência da queda em desuso do corante, a partir do século XVII.

A deteção de uma pedra de engenho de pastel na ilha do Corvo revela-se, assim, de extrema importância, no contexto da arqueologia insular, considerando que, até ao momento, apenas se conhecem pedras com tipologias semelhantes na ilha Terceira e na ilha de São Miguel.

A mó apresenta um formato circular, com 112 centímetros de diâmetro, cerca de 40 centímetros de espessura e um buraco central, em formato quadrangular, com 14 centímetros de lado. É este orifício quadrangular que confere a sua especificidade, sendo que pedras com esta tipologia estão habitualmente associadas aos chamados engenhos de pisão de pastel.

A reforçar esta história longínqua que a memória viva não alcança, encontramos nas terras de cima dois microtopónimos – Engenho e Pasteis, sendo que a mó se encontra no primeiro. Importa destacar a proximidade entre ambos, sendo que Pasteis corresponderia ao local de cultivo da planta, e Engenho ao local de produção, onde a planta seria processada e finalmente carregada até à Vila, para exportação. O caminho do Engenho e a Ribeira da Lapa ligam ambas as zonas.

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