Desde os primórdios do povoamento, a produção de lã na ilha do Corvo assumiu extrema importância pois era dela que advinham os agasalhos e todo o vestuário que os corvinos dispunham; era também da venda de alguma dessa lã que conseguiam o pagamento de parte do imposto a que estiveram sujeitos até ao século XIX.
Durante mais de quatro séculos o gado ovino predominou na ilha tendo atingido números na ordem dos seis milhares. O rebanho pertencia ao donatário da ilha até à elevação a Vila que se concretizou em 1832, altura em que este foi repartido por entre todos os corvinos de forma igual. Para melhor fazer a gestão desse rebanho, a comunidade encontrou um método de marcação dos animais, através de cortes nas orelhas, cujo formato ou conjugação entre formatos, era atribuído a um único proprietário, ficando o registo feito em livro próprio na Câmara Municipal – o Livro das Marcas –, que passava de pais para filhos ou de sogros para genros.
A marcação dos animais e a sua tosquia, feitos no “Dia da Lã”, eram organizados de forma comunitária, pelos anciãos corvinos no Largo do Outeiro, dando assim início ao Ciclo da Lã. Este Dia da Lã repartia-se, anualmente, em dois momentos – em maio para a tosquia e em setembro para a marcação das crias e fêmeas que não tivessem sido marcadas em maio, sempre no curral dos Lagos.
Feita a tosquia, seguia-se o tratamento da lã até chegar ao tear e ao seu produto final – mantas, cobertores, camisotes, garotas, camisoulas, camurças, calças, barretas e bonés.