A sobrevivência de qualquer comunidade depende da sua adaptação ao território que ocupa, da sua capacidade em transformar esse território e ser, simultaneamente, transformado por ele. Essa simbiose define a cultura de um lugar e de uma comunidade e o processo não foi diferente na ilha do Corvo. Se por um lado, a geomorfologia da ilha ditou uma divisão quase natural entre as terras de cima e as terras de baixo, separadas por um morro que se ergue imponente a norte da fajã lávica onde o povoado se implementou, por outro, a procura pela respostas às questões fundamentais de abrigo, alimento e agasalho, ditou a ocupação do território e uso do solo que vemos patente na paisagem corvina.
Na fajã lávica, implementou-se a Vila do Corvo a este, onde os terrenos são mais rochosos e, como tal, menos férteis, assegurando o abrigo; a oeste, constituíram-se as terras de baixo, destinadas ao cultivo dos cereais, hortaliças e legumes, que garantiam o alimento. Na zona mais alta da ilha constituiu-se o baldio, onde as ovelhas pastavam e onde cresceram exponencialmente em número assegurando a lã para o agasalho dos corvinos.
Com o crescimento da população foi necessário também cultivar nos terrenos mais elevados, as terras de cima, permanecendo o baldio para a criação de gado. As hortas de fruto ficaram relegadas à vertente oriental, mais abrigada dos ventos fortes de noroeste.
A partir dos anos 60 do século XX, a Vila abre-se para oeste e vai ocupando parte das terras de baixo.
Baldio é um terreno de uso comum, com existência legal definida, para o arquipélago dos Açores, pelo menos desde 1772. No Corvo encontramos documentação remontante a 1855 que indica que o baldio seria pertença de todo o concelho, sendo que, em atas camarárias verificam-se referências à incumbência municipal de zelar pela correta exploração do mesmo.
Na transição para o século XX, com a extinção do concelho, pelo Decreto de 18 de novembro de 1895, e posterior restituição do mesmo, em 1898, verificou-se uma mudança no formato de gestão, com indicação das responsabilidades a passarem para a Junta da Paróquia, que terá correspondido, após a implantação da República, à Junta de Freguesia de Nossa Senhora dos Milagres.
O Baldio ocupa um terço da ilha, cobrindo uma área aproximada de 6km2 (600 hectares), junto às Terras de Cima. É ainda hoje um resquício do comunitarismo que pautou a vida dos corvinos a maior parte da sua existência, circundando o Caldeirão e estendendo-se a partir dele, sem muros de pedra seca e sem caminhos fisicamente delimitados, mas que os que dele fazem uso, conhecem e percorrem como se esses caminhos lá estivessem. Aqui todo o gado, que na ilha é maioritariamente bovino, pode pastar livre todo o ano.